sábado, 3 de dezembro de 2011

MEU MESTRE É BAMBA


MESTRE MAGOO




Meu nome é Marcelo de Souza Silva, sou paulistano, nasci em 29 de dezembro de 1968. Comecei na capoeira em 14 de julho de 1984, numa tarde de sábado na Associação de Capoeira Angolinha do Mestre Carapau.
Neste dia a academia estava vazia, pois os alunos e formados estavam em uma apresentação e o Mestre pediu para um estagiário, o Onça, fazer um aquecimento comigo. Em seguida o Mestre liberou o Onça para a apresentação e me ensinou a ginga, a benção, a armada-de-frente, a resistência e em dupla me ensinou como usá-los. Mas uma das coisas que mais me marcaram dessa aula foi que enquanto me mostrava onde deixar meus pertences no vestiário, disse que eu poderia deixar qualquer coisa lá porque ninguém iria mexer, pois se um dia entrasse alguma pessoa de má índole na academia, ela não iria se sentir à vontade em nosso ambiente e logo se retiraria.
Respeito ao próximo, aos mais velhos e à hierarquia da capoeira; disciplina nos treinos e na vida pessoal; dedicação à capoeira e nossa cultura, foram e sempre serão alguns dos inúmeros ensinamentos do nosso Mestre, e são os ingredientes que formam esse famoso ambiente de sua academia, que também me acolheu e que hoje procuro manter, ensinando para os alunos nessa mesma academia.
Me formei em 1995 e permaneci com meu Mestre na academia auxiliando nas aulas, e em janeiro de 1996, por indicação dele, iniciei minha primeira turma de capoeira na Academia Sasaki, no bairro Assunção, em São Bernardo do Campo. Embora estivesse dentro de uma academia poliesportiva nomeei meu trabalho de Capoeira Luz de Angolinha . Iniciei uma nova turma da Luz de Angolinha na academia Dellaunay em São Paulo , na Vila Clementino em 1999.
No início de 2001 o Monitor Chevette, meu irmão de capoeira que assumiu as aulas do Rudge Ramos em 2000, me procurou na Sasaki dizendo que precisaria deixar a academia, por motivos profissionais e que o Mestre Carapau havia consentido que, se eu pudesse tocar a academia ele a manteria aberta, caso contrário fecharia e levaria suas coisas para a sede do Grupo Angolinha.
Assim em 5 de março de 2001 assumi a academia Rudge Ramos e mais do que uma missão, posso dizer que foi um presente e um sonho que nunca ousei sonhar. Em novembro do mesmo ano, no primeiro batizado que realizei na academia, fui “batizado” pelo Mestre Carapau e recebi de suas mãos meu cordão de contra-mestre.
Muitos dos alunos do mestre que conviveram comigo, na época de estagiário ainda, me acolheram e acreditaram no meu trabalho e assim formei em 2005 meu primeiro formado , o Cascavel. Em 2007 realizamos um evento de formatura, onde formei o Kalango, o Cebolão, o Leopardo, o Juca e o Cruvinel. Fizemos uma grande apresentação no Salão Nobre da Universidade Metodista, lançamos o primeiro CD entitulado Capoeira Angolinha Rudge Ramos vol.1 e fui graduado como mestre.
Em 2008 o Estagiário Ligeiro se formou pelo Grupo e me “adotou” como mestre dele e por sua determinação e lealdade o considero como meu formado também.
Em 2009 tive o privilégio de formar a filha do Mestre Carapau, a Estrela, que a exemplo de outros formados e estagiários, continua na academia treinando e me auxiliando nas aulas e apresentações.
Desde minha formatura participei nas aulas de formado, tentando auxiliar nos trabalhos do grupo e o presidente na época, o Mestre Carlão, me nomeou assistente social, depois 2º secretário, vice-presidente e em 2002 me elegi presidente sendo reeleito em 2006, seguindo no mandato até 2010. Hoje estou como diretor de esportes do grupo.
O Mestre Carapau sempre valorizava o mestre dele, lembrava do Sr. Mello com carinho, respeito e admiração. Parece mesmo que quando você faz uma coisa boa para alguém essa coisa boa volta para você. Ele fazia questão de valorizar o trabalho de quem o havia ensinado e eu aprendi com o exemplo dele a dar valor e a respeitar meu mestre.
Hoje, capoeiras dizem por aí que seguem os ensinamentos do Bimba ou do Pastinha, que sem dúvida foram grandes mestres de todos nós. Eu digo com orgulho que sigo o Mestre Carapau. Eu acredito que no futuro haverá muito mais pessoas contando a história dele. Vão se referir a ele como um símbolo da capoeira das décadas de 70 a 90, em São Paulo. Isso é minha motivação para dar continuidade ao trabalho dele na academia, no Grupo Angolinha e por todos os cantos que esse universo da capoeira me leve.

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